Entrevista exclusiva com Jay Freestyle

"Eu não estou nessa tendência de tatuagens com significado, isso é apenas a sociedade fazendo você pensar que precisa de uma razão para fazer algo”

O tatuador e pintor Jay Freestyle é descendente de chineses, nasceu e cresceu na África do Sul, hoje vive na Holanda, em Amsterdã,  e trabalha no estúdio Dermadonna Custom Tattoos.

Ele marcou presença na Tattoo Week São Paulo 2016, sendo premiado nas categorias Melhor de Sexta, Melhor de Sábado e Melhor do Evento. 

Muitos descrevem seu estilo como aquarela, mas ele diz que, apesar de definitivamente carregar elementos da aquarela, é mais que isso. Ele prefere combinar vários estilos e técnicas, como formas geométricas e pontilhismo, enquanto mistura realismo com o abstrato.

Conversamos um pouco com o tatuador para saber mais sobre sua carreira.

Há quanto tempo você tatua?

Eu tatuo desde 2009.

Como nasceu seu interesse por tatuagem?

Comecei como body piercer e meu mentor foi quem realmente me incentivou a começar a tatuar. Nunca tinha tido um real interesse em me tornar tatuador, eu meio que caí nesse mundo. Comecei praticando em pele de porco por alguns meses e quando me senti seguro passei para amigos e colegas de trabalho. Tive muitas artes feitas em mim por profissionais e esse também foi um jeito de aprender e entrar na área.

Quais foram suas maiores dificuldades?

Acho que uma das maiores dificuldades foi lidar com meus pais, eles nunca apoiaram minha decisão de me tornar um tatuador. Ter fé e abandonar meu emprego para seguir minha paixão também, acho que é uma dificuldade que a maioria dos artistas enfrentam quando estão começando.

Você tem o sonho de tatuar algum desenho em especial?

Eu tenho a sorte de ter alguns colecionadores (clientes) incríveis, que confiam em mim e no meu trabalho, em quem eu praticamente faço o que quiser. Então não tem nada específico que eu sonho em fazer que já não tenha feito. Eu acho que seria fazer trabalhos realmente grandes. Eu adoraria fazer trabalhos de corpo inteiro, esse seria o sonho.

Você tem alguém que te inspira?

Tem muitos artistas que me inspiram: Jeff Gogue, Shige, A.D Pancho, Filip Leu são alguns deles.

O que a tatuagem é para você?

Para mim, tatuar é uma arte em forma viva. Estou nisso puramente pela estética visual porque, em sua essência, é o que a tatuagem é. Vejo da mesma maneira que pintar ou desenhar, a única diferença é que a tela é seu corpo. Você está colocando uma obra de arte no seu corpo permanentemente pelo apelo visual. Eu não estou nessa tendência de tatuagens com significado, isso é apenas a sociedade fazendo você pensar que precisa de uma razão para fazer algo. É a mesma coisa com qualquer modificação corporal, seja um piercing, tatuagem, escarificação, etc. O primeiro motivo é o apelo visual daquilo, o que você quer acreditar que significa fica em segundo plano.

Você já sofreu algum preconceito por ter tatuagens ou por ser tatuador?

Na verdade não. Eu penso muito que isso tem mais a ver com o que você tatua no seu corpo do que se você tem tatuagens ou não. As tatuagens que eu tenho são todas muito bem feitas e eu tenho mais da metade do corpo fechado, eu ainda não percebi realmente nenhum preconceito contra mim. Na minha opinião se você tem tatuagens boas o modo como as pessoas te olham é muito diferente. Eu tenho vários amigos que têm tatuagens terríveis e muitas vezes são apontados por isso. Se você está coberto de tatuagens “gangsta”(sic), então sim, com certeza as pessoas vão te olhar diferente, mas se você tem tatuagens que são obras de arte isso cria um apelo diferente. Acho que pode ser comparado ao graffiti. Se é alguma marca porcaria feita de maneira aleatória em uma construção, é visto como lixo e ilegal, mas se o tempo é dedicado a fazer um mural apropriado, de repente é uma obra de arte e a mesma pessoa que seria contra o graffiti tem uma visão diferente porque não tem mais uma conotação negativa. Funciona da mesma maneira para tatuagens. A geração mais antiga, que ainda vê as tatuagens como algo criminoso, enxerga de maneira diferente quando é confrontada com uma tatuagem que é uma obra de arte, em oposição a uma tatuagem que parece que foi feita na cadeia.

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